terça-feira, 28 de junho de 2011

Desmonte do Morro de Santo Antônio



UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Faculdade de Formação de Professores
Disciplina: História do Brasil V
Alunos: Gabriel Alencar, Peter Garcia, Walace Faria.





 São Gonçalo, 21 de junho de 2011.

Introdução

     Neste vigente trabalho pretende-se descrever o contexto político e social do Rio de Janeiro em meados do século XX, apresentando os projetos e as teorias de urbanização que visavam valorizar a paisagem da cidade, reforçando a imagem da capital federal como centro de poder.        O objeto de pesquisa deste trabalho é o desmonte do Morro de Santo Antônio no início da década de 1950, possibilitando uma maior facilidade no deslocamento de veículos do centro à Zona Sul e valorizando as principais áreas da cidade. Ou seja, promovendo o avanço da modernidade e do progresso urbano, resultado do crescimento habitacional no Rio de Janeiro e pela necessidade de circulação na cidade que se configurava já desde a década de 1940.        Foi então na necessidade de se opor aos símbolos do atraso, como as favelas, cortiços e antigos imóveis habitados pela população mais pobre do município, que emergiram inovações em diversos campos, como o da comunicação e dos transportes. São essas transformações que apresentam-se como demonstração da capacidade e do progresso técnico-científico, e principalmente pela forte intervenção do Estado em seu objetivo de apresentar a cidade do Rio de Janeiro como modelo de desenvolvimento a ser seguido. 

O Pré-Desmonte do Morro de Santo Antônio
    
 Antes de apresentar a década de 1950 representada pelo inicio das obras do desmonte do morro de Santo Antônio, é fundamental destacar os projetos de urbanização que antecederam tal acontecimento na história do Rio de Janeiro.    Em geral, ainda no século XIX, as favelas configuravam-se como elementos presentes na paisagem urbana carioca, dando a essas habitações status de categoria social. Esse processo de favelização dá-se principalmente a partir da abolição da escravidão e do fim da Guerra de Canudos, visto a transferência dos ex-escravos e dos militares que participaram do conflito ocorrido no Nordeste brasileiro para essas favelas recém-construídas.           Já em meados do século XX, as favelas passam a ser compreendidas como uma imagem negativa na paisagem urbana do Rio de Janeiro. Exemplo dessa contestação é a apresentação de projetos no Estado Novo, destacando-se como primeiros grandes programas estatais de intervenções em favelas. O principal deles é o projeto “Parques Proletários” 1, marcado pela remoção de favelas e conseqüente transferência dos seus moradores para conjuntos habitacionais construídos pelo Estado. Dando a esse programa, objetivo de desmonte das favelas e de controle ideológico a partir da reeducação dos habitantes dessas moradias, solucionando assim suas “deficiências morais”. Esses projetos apresentados na década de 1930 aparecem como continuidade de uma preocupação com a visibilidade do espaço urbano que já vinha ocorrendo desde o início do século.           Na passagem da década de 1940 para a década de 1950, o clima de euforia emerge com o crescimento de uma utopia nacionalista contra o atraso, caracterizando o surgimento de uma ideologia nacional–desenvolvimentista. Os impactos dessas transformações promovidas pelo Estado passavam a ser vistas positivamente pela população. Estavam construídas as bases para o desmonte do morro de Santo Antônio no ano de 1952 sob a administração de Dulcídio Cardoso. 

O Desmonte do Morro de Santo Antônio
    
  Precedido pelo prefeito João Carlos Vital, Dulcídio do Espírito Santo Cardoso foi prefeito do Rio de Janeiro nos períodos entre 1952 e 1954. Foi no início do seu governo que se principiou as obras de desmonte do morro de Santo Antônio, tendo como seus principais idealizadores os representantes do Departamento de Urbanismo: Affonso Eduardo Reidy e Hermínio de Andrade e Silva.      Tendo como primeiro objetivo a criação de áreas valorizadas no centro da cidade que ligassem ao bairro de Copacabana, desafogando consequentemente a Avenida Beira-Mar, a obra era tratada pela imprensa logo no seu começo como uma ferrenha oponente da favela, sendo tal caracterizada como área rural e campestre, e relacionada diretamente pela mídia com o tráfico de drogas e com a violência, ou seja, como obstáculo à modernidade. Logo, mostrava-se necessário inovar e combater esses males no espaço urbano carioca.          No decorrer do desmonte, o acontecimento era tratado como exibição da urbanidade, da cidade e da metrópole, ou seja, como um “efeito de vitrine”, promovendo assim uma apologia ao futuro em oposição às características passadistas da cidade do Rio de Janeiro. Esse progresso era fundamental por ser tal cidade a capital federal, sendo necessária essa manifestação de poder que mostrasse certa distinção do que ocorria em outras cidades. A necessidade da capital federal representar o simbolismo nacional é destacado por Jaguaribe em sua obra: “as cidades-capitais projetam uma deliberação simbólica que ultrapassa o repertório usual de outras cidades. Possuem as marcas da oficialidade histórica conferida aos monumentos. Simbolizam, nos seus diversos momentos históricos, o panteão nacional.”2     Já na administração de Francisco Negrão de Lima entre os anos de 1956 e 1958, ficou evidente os aspectos negativos da obra de desmonte do morro de Santo Antônio. Com a criação da Superintendência de Urbanização e Saneamento (SURSAN), que possuía a finalidade de concretizar, executar e fiscalizar a obra de desmonte, torna-se visível a não gratuidade da obra ao carioca, visto o alto custo na realização da mesma. Seguindo com os problemas decorrentes durante a demolição parcial, destacam-se os inconvenientes causados à vizinhança por causa da quantidade de poeira oriunda do transporte de areia do morro para o aterro que estava sendo realizado, além da sua longa duração (aproximadamente dez anos).        Somente no governo de Carlos Frederico Werneck de Lacerda, que se estendeu entre os anos de 1960 e 1965, a obra do desmonte do morro de Santo Antônio foi concluída. Mostrando que não só de louros pelo ideal de avanço e progresso deu-se esse acontecimento de extrema importância na história do Rio de Janeiro do século XX.          

Resultados e Conseqüências do Desmonte do Morro de Santo Antônio
     
    Concluída a obra de desmonte, é fundamental ressaltar os principais resultados obtidos a partir dela e em que essa transformação na paisagem urbana da cidade do Rio de Janeiro implicou no cotidiano da população.       Como apresentado anteriormente, o principal objetivo em demolir parte do morro de Santo Antônio consistia na possibilidade de facilitar a circulação de veículos do centro da cidade à Zona Sul, adaptando a estrutura urbana ao crescimento populacional e consequentemente das habitações no Rio de Janeiro. Dessa forma, seriam abertas novas e mais largas avenidas que desafogariam o tráfego na Avenida Beira-Mar. Nesse aspecto, a construção da obra foi um êxito, visto que com o desmonte de parte do morro de Santo Antônio foi aberta a Avenida Chile. Na nova Avenida Chile, um trajeto antes realizado em aproximadamente vinte minutos passou a ser feito em três minutos. Essa transformação explica parte da euforia da população, sendo ela principal beneficiada com os resultados práticos das novas construções que ocorreram na década de 1950.           Outra consequência do planejamento urbanístico elaborado por Affonso Eduardo Reidy e Hermínio de Andrade e Silva, dessa vez mais voltada à paisagem e aparência urbana, foi o Aterro do Flamengo. Sendo esse espaço de destaque na cidade atualmente, construído a partir do material oriundo do desmonte e arrasamento do antigo morro. Nesse mesmo local ocupado anteriormente pelo morro, que se deu a construção da nova Catedral Metropolitana e de alguns edifícios modernistas, tais como o edifício da Petrobrás, o edifício do antigo BNH e o edifício do BNDS, todos eles construídos na já citada Avenida Chile.          Após o desmonte do morro de Santo Antônio, compreendida como obstáculo a abertura de espaço para a evolução urbana, pode-se verificar que as únicas áreas que se mantiveram preservadas no espaço são o Convento de Santo Antônio e a vizinha Igreja da Antiga Ordem Terceira de São Francisco. Sendo ambas, as principais construções do período Colonial que felizmente ainda configuram-se na modificada paisagem da cidade do Rio de Janeiro. 

Conclusão
      
   A conclusão a partir do trabalho realizado destaca as principais implicações do desmonte do morro de Santo Antônio para uma maior preocupação sobre a situação social dos cariocas em um período de progresso e avanço realizado pela elite política, através de suas propostas e projetos, nas décadas de 1950 e 1960. É justamente nesse recorte de tempo que se caracteriza um novo período de produção de conhecimento sobre as favelas, sobretudo através do início do trabalho de campo e da emergência das Ciências Sociais. Dessa forma, torna-se notável uma mudança de percepção sobre a favela, vista a partir de então como comunidade e sujeito potencialmente político.3  Por tratar-se de um tema mais voltado às questões urbanísticas, é fundamental enfatizar a escassez de livros, artigos e outros materiais que tratem do assunto a partir de uma abordagem histórica. No entanto, a disponibilidade de imagens que apresentam as transformações ocorridas no Rio de Janeiro em meados do século XX, tal qual a demolição parcial do morro de Santo Antônio, nos dá a possibilidade de refletir sobre a situação de miséria da população representada pelo crescente número de favelas na cidade, sobre a maior intervenção do Estado preocupado com a aparência da então capital federal, e consequentemente sobre a situação política nacional, dado a atenção às questões referentes ao desenvolvimento e industrialização da nação.


















BIBLIOGRAFIA:
      AMOROSO, Mauro. A Favela Faltou na Foto: A Cobertura do Desmonte do Santo Antônio pelas Lentes do Correio da Manhã. Revista Discente do Departamento de História da UFF, 2009.
      BRAGA, João Fernando Xavier Pereira. A Transferência da Capital Federal: Notas Sobre a Evolução Urbanística do Rio de Janeiro na Década de 1950. Universidade de Brasília: Programa de Pós-Graduação e Pesquisa, 2008.
     JAGUARIBE, Beatriz. “Ruínas modernistas”. In: Fins de século: cidade e cultura no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1998
      LEEDS, Anthony & LEEDS, Elizabeth. A sociologia do Brasil urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
      VALLADARES, Lícia. “A Gênese da Favela Carioca: A Produção Anterior às Ciências Sociais”. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Brasília: v.44, n.15, 2000.
MATERIAIS DA WEB:
     MONTEIRO, Marcelo. Santo Pioneiro.       Fonte: http://www.favelatemmemoria.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=4&infoid=44%20.             Acessado em: 07 de Junho de 2011. 
      VASCONCELOS, Edwaldo. Urbanização da Área Resultante do Desmonte do Morro de Santo Antônio.          Fonte: http://www.urbanismobr.org/bd/documentos.php?id=3878.    Acessado em: 07 de Junho de 2011.   
                                         

Um comentário:

  1. Não somente os aterros da Gloria e Flamengo surgem com o desmante de morros, em destaque o de Santo Antônio. Vale ressaltar o proprio centro da cidade, as ruas do Passeio e Santa Luzia, que nos mapas do sec XVIII e XIX eram à beira mar e os morros da Gamboa e Mineira, que eram fincados dentro das águas da baia de Guanabara.
    O desmonte do morro do Castelo também altera os limites da cidade junto às águas da Guanabara. A Esplanada dos Ministérios, av. Pres Antonio Carlos e parte da ilha fiscal surgem da movimentação de terra dos desmontes.
    Os morros da Viuva e Pasmado na Gloria e em Botafogo eram quase ilhas isoladas nas águas da baía. O penedo da Urca mergulhava diretamente nas águas da baía, junto à enseada de Botafogo. O aterramento de sua base faz surgir o tradicional bairro da Urca e dá acesso terrestre ao morro Cara de Cão, bem na entrada da baía de Guanabsra, no Rio de Janeiro.

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